Olhar para a Amazônia sempre foi uma necessidade premente para mim. Na tentativa de entender como sua história e particularidades são acionadas na produção artística, e geram obras que ao partir do local ativam questões que ultrapassam regionalismos, nasceu esse projeto. O desejo pessoal de constituir uma coleção de arte produzida a partir da experiência de estar na Amazônia vem sendo nutrido há tempos, impulsionando-me ao desenvolvimento de pesquisas e à consequente reflexão sobre a arte produzida na região, gerando projetos, textos, publicações e curadorias. O Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça / Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais 2010 da Fundação Nacional de Artes surgiu como a possibilidade de dar forma à Coleção Amazoniana de Arte da Universidade Federal do Pará, compilando obras significativas a partir de experiências diversificadas de artistas que se permitiram adentrar na região e vivê-la em suas diferenças, dialogando com tanto com o vernacular, quanto com referências sedimentadas na história da arte, ao tratarem de temas que concernem a experiência humana, ganhando dimensão universal. Longe de se estabelecer em um colecionismo, ou como um “gabinete de curiosidades”, como o nome pode sugerir, esta coleção se distingue por não desejar agregar todos e quaisquer procedimentos artísticos constituídos na Amazônia, mas aqueles em que os artistas, provenientes ou não da região, se deixaram atingir pela força e pela dimensão desse lugar, projetando suas vivências em forma de arte. São múltiplas “Amazônias” que se apresentam e suscitam distintas experiências, desdobrando-se em práticas artísticas que ocorrem na fricção, no contato íntimo e, ainda, no estranhamento com este território. Constituir essa coleção em uma instituição cuja missão é a construção do saber, como é a Universidade Federal do Pará, é fundamental e reflete a incumbência de um lugar que pensa o conhecimento em suas múltiplas configurações. Assim, compõe-se uma coleção em que a arte é a matéria do conhecimento e os experimentos dos artistas alimentam pesquisas, ensino e se desdobram em projetos para a sociedade, reiterando as práticas dos artistas que se atraíram e imergiram em questões da Amazônia. A Coleção Amazoniana de Arte não encontra um fim em si mesma, mas se delineia como um processo em fluxo continuo e dinâmico, aspectos que irão somar-se na busca do aprofundamento da reflexão sobre a Amazônia por meio da arte e seus lugares de experiência. Orlando Maneschy |